quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Nos meandros da Psicoterapia

Um processo terapêutico representa coisas diferentes para pessoas diferentes e estas vão-me revelando de que forma absorvem esta experiência. Há quem saia das consultas a sentir-se aliviado. Há quem fique angustiado. Há quem não perceba como as consultas poderão ajudar. Há quem desista. Há quem persista. Há quem encontre um sentido que andava à deriva. Há quem sinta efeitos imediatos. Há quem comece, muito gradualmente, a sentir benefícios sólidos e duradouros. Há quem, após um período de aparentes mudanças, se sinta estagnado, desmotivado. Há quem se sinta mais leve. Há quem refira que falar sobre certas coisas é doloroso. Há quem encontre um porto de abrigo, uma segurança, num espaço onde não há filtros, moralismos, julgamentos e onde através da palavra tudo é permitido. Há quem prefira escrever-me alguns sentimentos num papel porque verbalizá-los nem sempre é fácil. Há de tudo, ainda que o objectivo central seja sempre o mesmo: melhorar a qualidade de vida da pessoa.
Uma jovem paciente enviou-me um excerto de Gonçalo M. Tavares sobre o que representa para ela fazer terapia e suponho que seja muito parecido com o que muitas pessoas sentem:

"As obras começavam por abrir um buraco. E passados três meses o que havia era um buraco. Depois começavam as fundações. E só passados quatro ou cinco meses é que a casa ia crescendo - de baixo. Começava no piso zero, depois começava a subir. Isto marcou-me muito, a casa a pousar e afundar. "Fundar" tem a ver com fundo, tem que se abrir um buraco, pôr lá os alicerces, e depois começar a crescer. Pousar é a coisa mais frágil do mundo. Se quiséssemos fundar esta garrafa tínhamos que começar a escavar. Se quiséssemos que esta garrafa diante de um toque não caísse, a única hipótese era trabalharmos muito no que não é visível. Escavar, criar uma protecção que não é visível."