A dor faz parte do desenvolvimento do ser humano, na medida em que a sua função inicial é informar sobre um perigo, bem como alertar para um desequilíbrio na estabilidade do organismo. O problema surge quando a dor persiste após a eliminação do que a causou, não cumprindo nenhum papel à sobrevivência da pessoa ou mesmo ao seu crescimento pessoal.
Este tipo de dor denomina-se de dor crónica, normalmente é de difícil identificação, causa sofrimento, e manifesta-se de modo contínuo ou recorrente. Estima-se que em Portugal 2 milhões de pessoas sofrem de dor crónica, desde musculos-esqueléticas, dores de cabeça intensas e contínuas, doentes com fibromialgia, ou simplesmente após uma operação.
Mais do que um sintoma, a dor crónica torna-se uma doença, sendo o controle desta, o objectivo primordial. As componentes emocionais envolvidas na experiência dolorosa crónica podem ser mais significativas do que propriamente as componentes sensitivas, e é por esse motivo que as pessoas com dor crónica apresentam com frequência uma prevalência elevada de depressão, ansiedade, transtornos de sono, de sexualidade, de uso/abuso de substâncias, isolamento e problemas nas relações com outros (amigos, familiares, etc).
Os efeitos da incapacidade crónica, bem como os efeitos familiares, sociais e financeiros inerentes a esta, contribuem todos para o sofrimento prolongado e interferem com a reabilitação de muitos doentes.
As alterações sentidas incluem: a imobilização e consequente enfraquecimento muscular e articular, entre outros; alterações no sistema imunitário e maior susceptibilidade a contrair doenças; distúrbios do sono; falta de apetite e nutrição deficiente; dependência medicamentosa; dependência exagerada da família e de profissionais da saúde; utilização exagerada e inadequada dos diversos sistemas de Saúde; menor rendimento no local de trabalho ou incapacidade de realizar uma actividade; invalidez; tendência para a introversão, isolamento do meio social e familiar; ansiedade, medo, frustração, depressão ou mesmo suicídio.
Se sofre de dor crónica é importante que recorra aos serviços de saúde para tratamento farmacológico, fisioterapia, entre outros tratamentos que lhe possam ser oferecidos para aliviar a sua dor. Porém, as dificuldades a nível psicológico não devem ser descuradas. Muitas pessoas enfrentam a perda de um corpo saudável e, para alguns, as diferenças no funcionamento corporal a que estavam habituados levam a uma perda de autonomia que é sentida com sofrimento, surgindo a necessidade de uma nova readaptação na sociedade.
A qualidade de vida das pessoas afectadas fica, directa ou indirectamente, drasticamente diminuída, pelo que o Psicólogo adquire aqui uma enorme importância, pois possui competências para utilizar uma série de técnicas terapêuticas psicológicas que permitam à pessoa com dor crónica melhorar a sua qualidade de vida. Estas abrangem a terapia cognitivo-comportamental, as estratégias de coping ou de redução de stresse, as técnicas de relaxamento ou a terapia de orientação analítica. Estas técnicas são utilizadas de acordo com as necessidades da pessoa que sofre de dor crónica, para ajudá-la a aliviar ao máximo o seu sofrimento e porque apesar da dor ser algo comum no ser humano, cada pessoa tem uma forma muito particular de a sentir.