A perda de uma pessoa pela qual se tem um sentimento profundo, constitui uma das experiências mais dolorosas na vida e dá origem ao que se denomina por processo de luto. Este processo resulta da relação afectiva que existia entre as duas pessoas, e quanto maior for o grau de intimidade que as unia, maior será sofrimento, como é o caso da perda de um(a) filho(a), de uma pai ou mãe, do(a) cônjuge, familiar ou amigo muito próximo.
A forma como o luto é vivido depende de pessoa para pessoa, mas existem algumas características que são comuns entre a maioria daqueles que passam por este processo. Normalmente, na fase inicial, dá-se um torpor ou dormência emocional em que a pessoa tem dificuldade em acreditar no que aconteceu. É esta negação da realidade que faz com que seja natural o enlutado ter uma energia inicial, por vezes quase eufórica, que lhe permite tratar das questões burocráticas inerentes a um falecimento.
Mais tarde, começará a surgir a desorganização emocional, com uma grande agitação e ansiedade, estados depressivos, revolta com o que aconteceu e sentimentos de culpa por se achar que se podia ter dito ou feito algo enquanto a pessoa era viva ou para evitar a morte.
Surge ainda um forte sentimento de querer encontrar a pessoa que faleceu e a angústia extrema de saber que nada se pode fazer para ter a pessoa amada de volta. Todas as situações e locais fazem lembrar o falecido e por vezes tem-se mesmo a sensação de que este ainda está presente, oscilando-se entre a recusa e a aceitação do sucedido e entre períodos mais ou menos críticos.
Algumas pessoas começam a isolar-se porque sentem que mais ninguém consegue compreender a dor que estão a passar e que o seu problema é único e impossível de ultrapassar. É importante ajudar a pessoa no sentido de continuar a integrar-se com os familiares, amigos ou colegas e permitir que esta partilhe o que sente, para vencer o isolamento. Nem sempre isto se torna possível porque a pessoa que está em luto tem geralmente muita necessidade de falar constantemente sobre o falecido, podendo gerar reacções negativas naqueles que a rodeiam com o passar do tempo.
O apoio psicológico, torna-se muito importante para permitir à pessoa expressar todas as emoções sem ter o receio de se tornar incomodativa ou de ter de reprimir o que sente e pensa para não magoar outras pessoas significativas que também estejam a passar pelo processo de luto. É ainda importante para recuperar lentamente uma maior estabilidade emocional, pois o facto de falar sobre os seus sentimentos e de receber compreensão, escuta e aconselhamento permite uma maior organização afectiva, aprendizagem e aceitação das fases pelas quais tem de passar para resolver o seu próprio luto internamente.
Os grupos de entreajuda também são importantes porque através do relato de pessoas com lutos mais antigos, a pessoa tem consciência de que as sensações pelas quais está a passar fazem parte de um processo normal. Deste modo, sentem-se apoiadas e compreendidas, sendo que mais tarde têm também a oportunidade de ajudar outras pessoas em luto.
Apesar da morte de um ente querido ser a principal razão para a ocorrência do luto, este também pode ser despoletado por outro tipo de situações, como por exemplo num divórcio, num aborto, na perda de um membro do corpo ou qualquer outra situação de vida que implique um conjunto de sentimentos que necessitam de algum tempo para ser resolvidos e que não devem ser apressados.
Num processo de luto normal, à medida que o tempo passa e com o apoio adequado, a angústia e sofrimento começam a diminuir de intensidade e a pessoa começa a ganhar a capacidade de pensar noutros assuntos ou até programar projectos futuros. Apesar da perda se manter e de ser algo que permanece no interior da pessoa para a vida toda, torna-se possível que esta volte a sentir-se completa e que encare a vida de uma forma positiva.
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