Muitas vezes os atritos na comunicação não estão tanto no conteúdo daquilo que é dito mas na forma como as mensagens são transmitidas. As discussões frequentemente desembocam em sucessivas acusações que fazem com que os intervenientes entrem numa espiral de ressentimentos da qual não conseguem facilmente sair.
Quando alertamos alguém para algo que nos desagrada, podemos tentar explicar os nossos sentimentos e pensamentos de maneira a não ferir ou atacar os sentimentos alheios. Isto porque, independentemente de se ter ou não razão, a partir do momento em que o fazemos pondo em causa as qualidades internas da pessoa em questão ou a sua intencionalidade, vamos inevitavelmente fazer com que esta se foque na necessidade de se defender dessas mesmas acusações, em vez de permitirmos que ela compreenda o nosso ponto de vista, que é na realidade aquilo que procuramos.
Por exemplo, se ficamos desorientados com uma casa desarrumada podemos referir que não nos entendemos quando há muitas coisas fora de sítio e que precisamos de uma maior organização do que partir para um "és um(a) preguiçoso(a) que não faz nenhum". Se alguém não nos dá atenção que achamos merecer podemos dizer que necessitamos de uma maior presença para nos sentirmos correspondidos do que "és egoísta, não me ligas nenhuma, não queres saber de mim". Se não nos sentimos bem num relacionamento, podemos tentar explicar que não nos sentimos felizes em vez de partir de imediato para a afirmação "tu não sabes fazer-me feliz".
Muitos outros exemplos poderiam ser dados, sendo que todos acabam por assentar no mesmo propósito. O de verbalizar as nossas insatisfações dando mais ênfase ao quanto estas nos afectam do que à necessidade de culpabilizar e apontar falhas. Isto não vai garantir uma comunicação positiva, pois nem sempre se encontram soluções compatíveis e é necessário que do outro lado seja feito o mesmo, mas é mais provável que sem as mágoas resultantes deste processo de apontar o dedo, a comunicação realmente passe por aquilo que pretendemos: conseguirmos dizer aquilo que sentimos e dar a oportunidade à outra pessoa de verdadeiramente compreender.
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