quarta-feira, 23 de julho de 2014

Timidez e Inibição

Apesar de não existirem certezas quanto ao peso genético, calcula-se que o temperamento tem uma forte componente inata que nos predispõe a desenvolver determinadas características de personalidade. Desde muito cedo que se verificam diferenças entre bebés quanto à forma como se comportam no quotidiano e como reagem na presença de outras pessoas, podendo estes demonstrar-se mais recatados ou extrovertidos. No entanto, estes indicadores precoces do temperamento não são deterministas quando ao comportamento futuro, pelo que há uma série de factores e vivências que acabam por estruturar as manifestações emocionais de cada um de nós. Sabe-se que um adulto tímido muito provavelmente foi uma criança tímida mas nem sempre uma criança mais introvertida se torna num adulto tímido. O maior ou menor isolamento desde cedo, o tipo e qualidade das convivências sociais, a personalidade e atitude dos pais e as circunstâncias de vida, acabam por ter uma enorme relevância na percepção que a criança desenvolve de si própria e consequentemente na conduta social que apresenta ao longo dos anos.
Na infância e também na adolescência devem ser evitados ao máximo os rótulos e as comparações, pois são estes que mais contribuem para que a criança sinta que tem algo de errado e acabe por ter comportamentos futuros que vão ao encontro da confirmação de que é diferente. Não é um problema sermos diferentes, mesmo porque ninguém é igual, mas pode tornar-se um problema sentirmo-nos diferentes.

É preciso dizer que a timidez não é uma patologia e, não sendo uma patologia, não necessita de tratamento nem tem de ser modificada. Existem muitas pessoas tímidas que se encontram realizadas e com qualidade de vida e a extroversão não é sinónimo de felicidade. Porém, é frequente que este traço cause algum prejuízo na vida da pessoa, impedindo-a de alcançar objectivos pessoais e é nesse sentido que esta pode sentir necessidade de procurar ajuda. Eventuais consequências negativas como o evitamento na interacção social por algum receio de avaliação negativa no exterior, o sentimento de desadequação ou inferioridade face aos outros e a dificuldade em expressar emoções podem, assim, comprometer o sentimento de realização pessoal. Quando a timidez está presente de uma forma muito intensa, também pode levar a fobias sociais ou outro tipo perturbações que diminuem a qualidade de vida.

Se a pessoa assim o desejar, é possível atenuar estas consequências através do reforço positivo, da mudança de padrões de comportamento, da alteração da percepção que tem de si mesma e da exposição progressiva a situações sociais consideradas ameaçadoras, de forma a que o nível de confiança e segurança interiores possam aumentar. Para isso, os sentimentos de aceitação e valorização pessoal são fundamentais mas todos sabemos que estes também dependem da reacção de quem nos rodeia, pelo que estão interligados e necessitam de ser trabalhados em conjunto, preferencialmente com o apoio de um psicólogo.
Porém, nesse processo, a pessoa tímida não se deve forçar a participar de contextos com os quais não se identifica nem tão pouco de adquirir comportamentos que não a reflectem. A timidez não é uma escolha, pelo que é fundamental que os seus gostos e preferências sejam respeitados para que não corra o risco de passar a vida a tentar corresponder a uma imagem que não é a sua e que reforça a ideia errada de que o seu interior é inaceitável.

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