segunda-feira, 5 de maio de 2014

Relações amorosas através dos sites de encontros

No âmbito de uma entrevista ao Jornal de Notícias, falou-se de encontros amorosos virtuais. Leia neste artigo os assuntos que estiveram na base da mesma.

Pelos vistos, Portugal é um bom mercado para os sites 
de encontros. Andarão os portugueses assim tão sozinhos?
Dar e receber afecto é uma necessidade universal, pelo que a procura de alguém para estabelecer algum tipo de ligação mais próxima, tanto acontece em Portugal como noutro país qualquer. O que acontece é que, com a proliferação das novas tecnologias, os sites de encontros acabam por constituir uma alternativa mais fácil na possibilidade de se iniciar algum contacto. Para além disto, no que toca à solidão, vivemos numa sociedade que se tem tornado mais individualista e que promove a gratificação imediata, com tudo o que de bom e mau que isso acarreta. Se por um lado temos mais opções, menos barreiras e nos é permitido ser mais exigentes na busca de um(a) parceiro(a) que nos desperte interesse, por outro esta ideia de termos o direito de procurar sempre “mais” e “melhor” pode conduzir precisamente a uma insatisfação continuada. 

Existem, inclusive, os que funcionam regionalmente, com dimensão local. Que explicação poderá haver para tal facto?
À partida, salvo excepções, quando alguém procura conhecer outra pessoa através de um site de encontros, é com o objectivo final de se encontrarem presencialmente. Os sites de encontros podem ter muita adesão na procura de potenciais parceiros(as) mas é no contacto real que procuramos prolongar e reforçar ligações. Por isso é natural que a localização seja um factor preferencial.

É sempre mais fácil contactar sem estar presente fisicamente?
Em vários aspectos torna-se mais fácil, começando logo pela abordagem. Quem está num site de encontros desfaz logo o receio de não existirem objectivos semelhantes. Depois, também causa menos impacto uma possível rejeição. Se aquele utilizador não corresponde, tenta-se outro e assim sucessivamente. Quando a conversa já está estabelecida, e especialmente se for por escrito, há também menos inseguranças e constrangimentos em darmo-nos a conhecer e um maior controlo sobre todas as variáveis que existem presencialmente e que por vezes levam a uma maior inibição.
Não se pode, no entanto, dizer que seja sempre mais fácil. Há quem sinta que o contexto virtual é forçado, repetitivo ou até enfadonho, o que pode prejudicar o entusiasmo. Em contexto real temos mais acesso a uma série de sensações que flúem mais naturalmente e de forma menos previsível. Podem também surgir interpretações erradas com frequência, por não termos acesso à linguagem não verbal que é tão ou mais importante. No fundo, tem vantagens e desvantagens, pelo que o melhor é tirar partido do que for surgindo, virtual ou não, sem racionalizar demasiado.

Que alertas quer deixar a estas pessoas que preferem recorrer a sites de encontros?
Em primeiro lugar que não se torne uma preferência mas sim uma alternativa como qualquer outra e que esteja a par de vivências igualmente potenciadoras de convivência. Tanto se cai num extremo de achar que conhecer alguém pela Internet é algo de muito negativo como no outro de passar a ser uma forma exclusiva de conhecer pessoas. Há também a ideia de que apenas os “falhados” e “desinteressantes” é que recorrem a este tipo de sites o que, pela minha experiência profissional, não é totalmente verdade. Conheço várias pessoas equilibradas, com bom senso e bem sucedidas a vários níveis, mas que por algum motivo não se sentem satisfeitas a nível amoroso e acabam por querer ter a possibilidade de alargar o leque de interacções. Se a Internet facilitar isso, porque não? Agora, como é óbvio, há de tudo em todo o lado e há até quem utilize estes sites de encontros para fins distintos daqueles que outros procuram. Assim, é importante que as expectativas sejam doseadas de forma realista, tal como seriam numa abordagem presencial, sem se esperar imediatamente encontrar uma “cara-metade”.

Caso a ligação comece a ficar mais intensa e frequente, também é bom que não se prolongue demasiado tempo nesse formato. Um encontro num lugar público, seguro e descomprometido pode ser o passo seguinte caso haja interesse de ambas as partes. Isto porque é mais fácil esconder reais intenções através do ecrã, evitando-se um maior envolvimento emocional com quem não sabemos estar do outro lado e que pode revelar-se um engano. Para além disso, a imaginação consegue ser mais poderosa do que a realidade e pela Internet é mais fácil depositar no outro os nossos ideais, desejos e projecções, levando mais facilmente à desilusão.