Pelos vistos, Portugal é um bom mercado para os sites
de encontros. Andarão os portugueses assim tão sozinhos?
de encontros. Andarão os portugueses assim tão sozinhos?
Dar e receber afecto é uma necessidade universal, pelo que a
procura de alguém para estabelecer algum tipo de ligação mais próxima, tanto
acontece em Portugal como noutro país qualquer. O que acontece é que, com a
proliferação das novas tecnologias, os sites de encontros acabam por constituir
uma alternativa mais fácil na possibilidade de se iniciar algum contacto. Para
além disto, no que toca à solidão, vivemos numa sociedade que se tem tornado
mais individualista e que promove a gratificação imediata, com tudo o que de
bom e mau que isso acarreta. Se por um lado temos mais opções, menos barreiras
e nos é permitido ser mais exigentes na busca de um(a) parceiro(a) que nos
desperte interesse, por outro esta ideia de termos o direito de procurar sempre
“mais” e “melhor” pode conduzir precisamente a uma insatisfação
continuada.
Existem, inclusive, os que funcionam regionalmente, com
dimensão local. Que explicação poderá haver para tal facto?
À partida, salvo excepções, quando alguém procura conhecer
outra pessoa através de um site de encontros, é com o objectivo final de se
encontrarem presencialmente. Os sites de encontros podem ter muita adesão na
procura de potenciais parceiros(as) mas é no contacto real que procuramos
prolongar e reforçar ligações. Por isso é natural que a localização seja um
factor preferencial.
É sempre mais fácil contactar sem estar presente fisicamente?
Em vários aspectos torna-se mais fácil, começando logo pela
abordagem. Quem está num site de encontros desfaz logo o receio de não
existirem objectivos semelhantes. Depois, também causa menos impacto uma
possível rejeição. Se aquele utilizador não corresponde, tenta-se outro e assim
sucessivamente. Quando a conversa já está estabelecida, e especialmente se for
por escrito, há também menos inseguranças e constrangimentos em darmo-nos a
conhecer e um maior controlo sobre todas as variáveis que existem
presencialmente e que por vezes levam a uma maior inibição.
Não se pode, no entanto, dizer que seja sempre mais fácil. Há
quem sinta que o contexto virtual é forçado, repetitivo ou até enfadonho, o que
pode prejudicar o entusiasmo. Em contexto real temos mais acesso a uma série de
sensações que flúem mais naturalmente e de forma menos previsível. Podem também
surgir interpretações erradas com frequência, por não termos acesso à linguagem
não verbal que é tão ou mais importante. No fundo, tem vantagens e
desvantagens, pelo que o melhor é tirar partido do que for surgindo, virtual ou
não, sem racionalizar demasiado.
Que alertas quer deixar a estas pessoas que preferem
recorrer a sites de encontros?
Em primeiro lugar que não se torne uma preferência mas sim uma
alternativa como qualquer outra e que esteja a par de vivências igualmente
potenciadoras de convivência. Tanto se cai num extremo de achar que conhecer
alguém pela Internet é algo de muito negativo como no outro de passar a ser uma
forma exclusiva de conhecer pessoas. Há também a ideia de que apenas os
“falhados” e “desinteressantes” é que recorrem a este tipo de sites o que, pela
minha experiência profissional, não é totalmente verdade. Conheço várias pessoas
equilibradas, com bom senso e bem sucedidas a vários níveis, mas que por algum
motivo não se sentem satisfeitas a nível amoroso e acabam por querer ter a
possibilidade de alargar o leque de interacções. Se a Internet facilitar isso,
porque não? Agora, como é óbvio, há de tudo em todo o lado e há até quem
utilize estes sites de encontros para fins distintos daqueles que outros
procuram. Assim, é importante que as expectativas sejam doseadas de forma
realista, tal como seriam numa abordagem presencial, sem se esperar
imediatamente encontrar uma “cara-metade”.
Caso a ligação comece a ficar mais intensa e frequente, também
é bom que não se prolongue demasiado tempo nesse formato. Um encontro num lugar
público, seguro e descomprometido pode ser o passo seguinte caso haja interesse
de ambas as partes. Isto porque é mais fácil esconder reais intenções através
do ecrã, evitando-se um maior envolvimento emocional com quem não sabemos estar
do outro lado e que pode revelar-se um engano. Para além disso, a imaginação
consegue ser mais poderosa do que a realidade e pela Internet é mais fácil depositar
no outro os nossos ideais, desejos e projecções, levando mais facilmente à
desilusão.