Em psicoterapia faz parte do processo conhecer e compreender o passado de quem nos procura. Por vezes há quem tenha algumas resistências em falar de vivências e experiências que aparentemente parecem ser banais ou desprovidas de qualquer interesse relevante para o que pretendem esclarecer ou alterar. Há a ideia de que só os acontecimentos muito traumáticos do passado é que poderiam explicar problemas no presente. Acontece que não são só os traumas identificáveis e conscientes que deixam heranças pesadas nas nossas emoções. São muitas as variáveis que contribuem para explicar aquilo que somos e que por norma, não só têm origem em fases muito precoces da nossa existência, como correspondem a um padrão inconsciente, do qual nem nos apercebemos, que se relaciona com a forma como vemos e sentimos o mundo. É por isso que achamos que o nosso passado não tem importância quando não há nada que se destaque, mas ao reflectirmos sobre ele acabamos por encaixar a pouco e pouco as peças do puzzle da nossa vida.
Ao contrário de uma verdadeira psicoterapia, se o objectivo passa por um aconselhamento psicológico muito específico e objectivo, nem sempre é necessário fazer a ponte com a personalidade da pessoa em questão. Contudo, mesmo nesta situação, pode acontecer que cheguemos a conclusões que se relacionam com o nosso funcionamento interno. Apesar do sofrimento poder ter origem em alguma circunstância de vida, é preciso perceber de que forma os nossos mecanismos psicológicos estão a prejudicar-nos ou, pelo contrário, a ajudar-nos. Todos temos estratégias diferentes para gerir dificuldades e o impacto de algo que esteja a ser difícil de suportar também varia de pessoa para pessoa, assim como varia com a etapa da vida que estamos a atravessar. É por isso que a dor não se mede e tem sempre o seu valor.
Esta necessidade de olhar para o passado não é no sentido de apontar, julgar ou criticar aquilo que foi o nosso percurso. E se a pessoa em questão não quiser falar de determinados assuntos que possam ser sugeridos, tem todo o direito de se resguardar até quando se sentir preparada ou deixando de lado o que prefere que não seja colocado em voz alta.
Compreender para resolver é o único propósito de voltar atrás no tempo. Mesmo porque quando conseguimos vislumbrar aquilo que fomos no passado, estamos muito mais perto de nos encontrarmos no presente.